«A. B. C. DA BAHIA»
Revista O Cruzeiro (Rio de Janeiro)
3 de maio de 1947
Texto de Rodolfo Coelho Cavalcanti. Fotografias de Pierre Verger.
Na página 57 da revista uma só foto [veja o quadrado vermelho entre as imagens abaixo!] de capoeira é mostrada da roda com a participação dos alunos de M Juvenal na rampa do Mercado Modêlo talvez um pouco antes de 3 de maio de 1947.
P.S. Pierre Verger [1902-1996] chegou na Bahia em 1946.
As imagens
O local da roda (1947)
O texto
-
página 1
-"A. B. C. DA BAHIA
Revista O Cruzeiro
3/maio/1947A
ACARAJÉ com pimenta
É bastante apetitoso
Feito de "feijão-fradinho"
Menino fica guloso
Acarajé pode crer
Basta o azeite de dendê
Para ser delicioso -
+
página 2
B
BONFIM é a Igreja - católica
Que nesta terra domina
É a sala de visita
Que realmente fascina
Cujo templo é irradiante
Atraente e deslumbrante
Erguido numa colinaC
CAPOEIRA não é esporte
Mas é sempre diversão
Quer seja no carnaval:
Na luta: entra em ação
O rival passa a rasteira
Está ai a capoeira
Quando o mesmo é campeãoA. B. C. DA BAHIA
Texto de RODOLFO COELHO CAVALCANTI
Fotografias de PIERRE VERGERO trovador popular Rodolfo Cavalcanti, um dos mais queridos do povo da cidade do Salvador, escreveu para o Cruzeiro, o ABC DA BAHIA, que apresentamos, hoje, ilustrado com as fotos de Pierre Verger. Seus versos, suas histórias, seus abecês são lidos pelo povo baiano, e sôbre sua personalidade já esta revista publicou, em outubro próximo passado, uma completa reportagem, mostrando sua extraordinária popularidade. Assim, no ABC DA BAHIA, desfilam, no mais saboroso estilo dos trovadores do Nordeste, as grandezas da terra baiana, exaltadas pelo poeta do povo, que canta e vende seus versos nas praças públicas, nas feiras e nos mercados, contribuindo assim para que as velhas tradições não desapareçam com o progresso e o tempo.
D
DIQUE é o imenso lago
Do centro um pouco distante
Na "linha" do Rio Vermelho
É bastante interessante
Su'água um pouco azulada
É a "lagôa-encantada"
De um aspecto brilhanteE
ELEVADOR LACERDA é
Do Brasil o mais falado
É de grande movimento
Faz qualquer ser transportado
Cidade Baixa à de Cima
Uma arquitetura prima
De valor concretisadoF
FILHA DE SANTO é uma jovem
Com sua bata arrendada
De torso balangandans
Parece mesmo uma fada
Sendo morena é "bacana"
É o tipo de Baiana
Realmente cobiçada -
+
página 3
G
GRAÇA ou "CAMPO DA GRAÇA"
É o bairro do esportista
Domingos e feriados
Todo fã futebolista
Vem d'outro bairro distante
Alegramente bastante
Pra ver se o "time conquistaH
"HERVAS-MIRACULOSAS"
Curam mal contagioso
"Maria-Prêta" "Alumã"
"Jerebão" "Espinho-Cheiroso"
Pra caso muito "importante"
Fôlha de Fôgo ou "Levante"
"Sabugueiro" e "Fedegoso"I
ITAPOAN: que subúrbio
De qualidades sem par!
De clima maravilhoso!
Quando é noite de luar...
Oh! meu Deus que poesia
A mais linda melodia
Das próprias ondas do mar!J
JANAINA é a sereia
"Rainha do Baité"
"Princesa do Iemanjá"
A Deusa do Candoblé
Todo "pai" e "mãe de santo"
No dogma do seu encanto
Lhe consagram ardente féK
KIOSQUE é o formato
De uma chalé: miniatura
Uma se presta pra vender
Tôda espécie de verdura
Outros frutas e legumes
Já outros vendem perfumes
De sublime arquiteturaL
LARGO DA SÉ é a praça
De um movimento altaneiro
É a praça dos comícios
"Ligada" quase ao Terreiro
Anexa com a Catedral
Embeleza a capital
De um modo verdadeiroM
MERCADO MODÊLO fica
Defronte de "elevador"
É o decano de todos
Da velha São Salvador
Por isto é o mais estimado
É um "paraíso-encantado"
Baluarte de valor!N
NAVEGAÇÃO DA BAHIA
No mastro do seu saveiro
Cantando concreta o pano
Faz o serviço ligeiro
Sai do pôrto à tardinha
Só volta de-manhãzinha
Vem pesado: sai maneiro!O
OXOSSE, Ogum Orixá
Omolu e uma infinidade
São os "santos" prediletos
Do candoblé, na verdade
Tem o seu ritualismo
De: católico-espiritismo
Diversão e santidadeP
PELOURINHO ou a "Ladeira
do Pelourinho" falada
Dezenas de arranha-céus
Ali alta madrugada
Ouvem-se vozes leitores
De apaixonados cantores
Na porta da dócil amadaQ
QUIABO, diz a baiana:
É a coisa principal
Com êle se faz cozido!
Não há outro tão igual
Pra festejar "Omolu"
Ou São Cosme, o caruru:
Quiabo nunca fêz mal! -
+
página 4
R
RUA CHILE é o comércio
Mais grã-fino da Cidade
Cada baiana bonita
Que até velho tem vontade
Voltar o tempo de moço
Rua Chile é um colosso
Na expressão da verdadeS
SAMBISTA na batucada
É um "herói" popular
Sabe jogar "capoeira"!
Sabe o "frevo" requebrar!
Sabe fazer serenata!
Sabe conquistar a mulata
Para ouvir êle cantar! -
+
página 5
T
TABOLEIRO DA BAIANA
Tem batata e abará
Umbu, rolête de cana
Arroz-doce, vatapá
Tem amendoim torrado
Acarajé-pimentado
Bôlo-frito e munguzáU
UMBU é fruta verdosa
Porém de ótimo sabor
É muito raro a baiana
Que não vende meu leitor
Umbu no seu taboleiro
São quinze pelo um cruzeiro
Porque vem do interiorV
VENDEDOR de papagaio
Fica no jardim leitor
Às vêzes: Praça Cairu
Ou senão no Elevador
E grita: chega freguês!
Fala o papagaio às vêzes
Diz o velho: é falador!X
XARÉU é o peixe gostoso
Pescado no Itapoan
Se compra lá no Mercado
Modêlo pela manhã
É um prato cobiçado
É ótimo sendo ensopado
Com pimenta e "hortelã"Y
YAYÁ é a negra velha
Filha mesmo da Bahia
Conhece todo "mistério"
Da macumba lá uma dia
Canta "samba de Terreiro"
É batuque o dia inteiro
Faz gôsto quem aprecia. -
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página 6
Z
ZÉ POVO gosta de Deus
Tem tôda veneração
São milhares de devotos
Em qualquer uma procissão
Todos contritos leitores
A Maria dão louvores
Alegres de coração!