Dacar, Senegal
FESTIVAL MUNDIAL DAS ARTES NEGRAS
1 - 24 de abril, 1966
Em abril 2016 faz 50 anos da viagem dos Mestres Pastinha, Camaféu de Oxossi, Gato Preto, Roberto Satanás, Gildo Alfinete e João Grande para Festival Mundial das Artes Negras em Dakar, Senegal.
O festival aconteceu durante 1 - 24 abril 1966, mas os mestres angoleiros só partiram para lá no dia 16.
M Gildo Alfinete em M Zoião, 1999:
«[M Pastinha] viajou para a África e teve uma trombose que afetou-lhe as vistas. Mesmo assim, Mestre Pastinha participava de shows, apresentando-se tocando atabaque. Isto foi no Festival de Artes Negras, onde a capoeira abriu o show tendo eu (Gildo Alfinete) e Mestre João Grande como participantes.»
O Brasil supostamente tomou o palco também numa estadião num outro dia.
M João Grande em Castro, 2007:
«Comecei a viajar pelo mundo em 1966. Fui para Dakar com Mestre Pastinha no Festival da Artes Negras. Eu, Gato, Mestre Pastinha, Júlio Roberto, Camafeu de Oxóssi. Festival Mundial das Artes Negras, pelo Itamaraty. Nós fomos para África. No dia que Mestre Pastinha foi tirar passaporte na Piedade para poder viajar ele não subia as escadas mais, veio carregado num carro, subimos as escadas com ele, eu, Gildo Alfinete e Roberto Satanás. Professor Valdir falou: «Se Pastinha não for ninguém vai». Depois a gente viajou. Lá ele não jogou. Quase não enxergava mais, ficava sentado na sombra. Jogamos eu, finado Gato, Roberto, Gildo. Camafeu foi tocando berimbau. Festival de Artes Negras de Dakkar.
Foi muito bom lá. Fui com o grupo de Mestre Pastinha, foi o grupo de samba de Ataulfo Alves, foi Clementina de Jesus para cantar e outra cantora do Rio. Ataulfo Alves com samba. Eu sei que foi também o Paulinho da Viola. E Olga de Alaketu para fazer a comida baiana. Da Bahia foi o grupo de Mestre Pastinha e Olga de Alaketu na comida.
Pastinha enxergava pouquinho. Ficávamos no hotel. De tarde, num larguinho, chegavam três rapazes. Sentou um com o balafon. Os outros dois estavam sem camisa com uma lata amarrada no pé. Cheio de pedras, uma lata pequenininha. Sapateando, fazendo tudo de capoeira. Fazendo corta-capim, aú, mortal, rolê, fazendo tudo, tudo, tudo... Mestre Pastinha perguntou assim: «Como é que chama essa dança. Isso é capoeira?» «Não, não é conhecido como capoeira não, é nossa dança daqui. A gente não sabe o que é capoeira não». Eles falavam em francês, mas traduziram pra gente. «A capoeira tá no Brasil, a capoeira angola de vocês está no Brasil. O pessoal levou pra lá e agora vocês estão apresentando aqui.»»
Imagens
Local da apresentação a 10 mil pessoas:
Estádio da Amizade (aberto em 1963, ganhou o nome Estádio Demba Diop em 1985)
O texto
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-CAPOEIRA NO FESTIVAL DE ARTE NEGRA
A TARDE (Salvador) - 19/04/1966CAPOEIRA NO FESTIVAL DE ARTE NEGRA - A Bahia será representada no Festival de Arte Negra que se realiza em Dakar (África) por um grupo de capoeiristas, dos mais famosos, escolhidos a dedo pelo Mestre Pastinha. Os capoeiristas que aparecem na foto são os seguintes: Mestre Pastinha, Roberto Pereira (Satanaz), Mestre Gato, Gildo (Formado), Camafeu de Ochosse e João Grande. O Mestre Pastinha fará uma série de demonstrações. Seus alunos, hoje também instrutores de capoeira de Angola da Bahia, se apresentarão para a platéia internacional, que estará presente ao Festival, promovido pelo presidente do Senegal, Sr. Leopoldo Senghor em combinação com o Itamarati. Ainda como outra atração, o capoeirista Camafeu de Ochossi levará uma gravação de afro-brasileiro, com acompanhamentos de berimbau e atabaques, inscritos oficialmente pelo Itamarati e pelo Centro de Estudos Afro-orientais, como autêntica música africana do Brasil, onde a Bahia tem destaque e influência com maior intensidade. A delegação da Bahia antes de embarcar esteve na redação de A TARDE, oportunidade em que afirmou que graças ao Diretor Valdir Freitas de Oliveira, do Centro de Estudos Afro-orientais, onde se diplomaram, conseguiu a oportunidade para mostrar o que a Bahia tem no estrangeiro.