• Revista Manchete
     O QUE A BAHIA TEM 
    24 de julho de 1954





    IMAGENS

    • O começo da reportagem

    • Foto 1: Jogando ? e ?
      Local: Água de Meninos (a igreja ao fundo é da Santíssima Trindade)
      Foto de Salomão Scliar

    • A página da revista (leia abaixo)
      Fotos de Salomão Scliar

    Manchete, 1954


    O texto

    • página 1

      -

      O que a Bahia tem
      Reportagem de Darwin Brandão
      Fotos de Salomão Scliar

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      página 2

      Capoeira
      A capoeira é uma das manifestações mais belas e ricas do folclore baiano. Alguns capoeiristas famosos do passado são hoje figuras lendárias.

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      página 3

      CAPOEIRA

      A capoeira teve seus mestres de ontem e tem seus mestres de hoje. Os de agora falam com respeito místico de Bezouro, Samuel de Deus e de Aberrê. Sôbre êles, correm histórias de amor e valentia, gente que tinha o corpo fechado e agilidade felina. Nos terreiros atuais, mandam Mestre Waldemar, Vicente Pastinha, Juvenal e outros que serão lendários amanhã. Os terreiros se espalham pela Liberdade, Brotas, Federação, bairros afastados e onde ainda é possível "vadiar" ao ar livre, ou em galpões cobertos de palha. A vadiação é domingueira, quando os capoeiristas aparecem com roupas engomadas. E quando o berimbau enfeza, os lutadores pular para o centro da roda. Cada qual com sua ginga, com seus truques, com suas características de jôgo. Às vêzes, arrastam-se no chão, para os golpes de surprêsa. Há os que preferem o "jôgo alto".

      Quando chegaram os primeiros escravos ao Brasil, com êles chegaram também os capoeiristas. Na nova terra, a luta foi arma eficaz contra o capitão-do-mato, contra o senhor escravizador. Probida, sobreviveu contudo: os negros introduziram a música e a capoeira foi perdendo o seu aspecto de luta, para ser quase uma dança. Assim é a capoeira da Bahia, a capoeira de Angola: um espetáculo coreográfico onde os bailarinos executam violentos passos de um ballet moderno. O berimbau (uma vara retesada por um arame comum, tendo na parte inferior uma cabaça que faz as vêzes de uma caixa de ressonância, uma varinha bate no arame tirando sons que são acompanhados pelo caxixi, pandeiro, reco-reco e às vêzes pelas palmas dos assistentes) comanda o jôgo com seus toques característicos e que Caribé, capoeirista exímio, explica num livro, ilustrado por êle mesmo: "São Bento" é o jôgo ligeiro, vistoso. Se o toque é "Banguela", é o jôgo de dentro. Se é "Santa Maria", é o jôgo de baixo, em que os camaradas se enroscam como minhocas ao rés do chão, sem juntas, caindo docemente, com se fôssem de algodão. Se é "São Bento Pequeno", a luta então é quase um samba.

      [Fotos 1 e 2, no primeiro barracão de M Waldemar:] Traíra, agachado, tenta uma cabeçada em Magé [Nagé]. Ambos são famosos capoeiristas baianos. A assistência vibra. No chão, cheio de níqueis, um lenço. Quem apanhá-lo com a bôca, ganha a luta e o dinheiro.

      [Fotos 3, 4 e 5, em Água de Meninos, ao fundo a Igreja de Santíssima Trindade:] Uma ginga para trás e o capoeirista se salvou de uma "benção". Capoeirista tem que ser, antes de tudo, agilíssimo, saber usar bem os pés, as mãos e a cabeça. E ter também presença de espírito: saber aplicar o golpe na hora exata, depois de várias negaças, controlando o jôgo do adversário.


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