• Revista Manchete
     «PROCISSÃO NAS ÁGUAS» 
    6 de fevereiro de 1954





    IMAGENS

    • Revista Manchete, 6 de fev de 1954
      Leia abaixo!

    • Revista Manchete, 6 de fev de 1954
      Leia abaixo!

    • M Bugalho e M Waldemar
      1 de janeiro de 1954, Salvador
      Foto: Gervásio Batista
      Revista Manchete, 6 de fev de 1954

    • M Bugalho e M Waldemar [quadrado vermelho]
      1 de janeiro de 1954, Salvador
      Foto: Gervásio Batista
      Revista Manchete, 6 de fev de 1954

    Manchete, 1954


    «Procissão nas águas»

    • página 1

      -

      Reportagem de Salvador Monteiro
      Fotos de Gervásio Batista

      Assim começa o ano em Salvador: muito sol e amarelo e azul e vermelho e violeta. E sobretudo música. Comemora-se então o Dia de Senhor das Águas, que no primeiro de cada anos passeia sua imagem pela baía de Todos os Santos, em pleno verão.

      Nas primeiras horas da manhã os sinos e carrilhões da redondeza despertam sonoros anunciando a nova etapa. E ao primeiro sol estão na rua os que vão bordejar em demanda da península, acompanhando o santo.

      Da rampa do mercado deverá partir o cortejo. Os torsos iluminados dos prêtos navegantes passeiam sôbre o saveiros coloridos que se atravancam no pôrto. Cabrochas redondas, vestidas de azul e rosa no cabelo, percebem os desejos dos fuzileiros endomingados, e ensaiam bamboleios, ao som dos primeiros rítmos de um conjunto nativo. Antigos marinheiros da Alfândega paramentados para o ofício aguardam na galeota o Senhor dos Navegantes, que descansou, à noite, na basílica ao sopé da colina. Os violões afinam-se, longamente, os pandeiros tremem e se iluminam, e, ao longe, uma voz misteriosamente entôa, dolente, a história do marinheiro que se perdeu nas ondas, outrora.

      "Chora no mar, chora no mar, marinheiro"

      As primeiras embarcações embandeiradas movimentam-se lentamente e ganham o largo da enseada e esperam, primeiro, voltadas para o sul, na direção da ponta do Padrão, um promontório onde se acrecenta a igreja pequena de S. Antônio da Barra.

      Na rampa surge o Bom Jesus dos Navegantes sôbre os ombros dos fieis. Atrás, a imagem da Mãe, muito chorosa, com a túnica em ouro e azul. À sua passagem, ajoelham-se os místicos e dizem confusos preces e pedem coisas.

      Começa então a procissão sôbre as águas, onde se vêm centenas de veleiros com música e bandeiras, bordejando em tôrno de galeota barroca e sagrada.

      De um saveiro azul ouve-se uma voz de homem, muito triste porque perdeu a música na praia.

      Foto 1 (com M Bugalho): O berimbau ouve-se à distância

      Foto 2: A imagem de N. Senhora abre o desfile

      Foto 3: Negras e mulatas - filhas de Janaína.

      Foto 4: Os barcos ganham decorações festivas.

      Foto 5 (com M Bugalho e M Waldemar): O capoeira de Mestre Valdemar não falta.

      Foto 6: Sandália apertada não dificulta o samba.

      Foto 7: Os pescadores são marinheiros de Iemanjá.

      Foto 8: O velho saveirista e o seu presente.

      Foto 9: A mulata se requebra na roda do samba..

    • +

      página 2

      Foto 1 (com M Bugalho e M Waldemar (quadrado vermelho)): A capoeira está presente em tôdas as festas, principalmente na da Conceição da Praia e na Procissão dos Navegantes. É a diversão preferida dos negros baianos...

      "Samba bom deixei na areia
      Ê ê ê deixei na areia."

      A procissão vence a primeira etapa e se volta para o norte, na direção da igreja da Boa Viagem, lá longe, à beira mar. É lá que mora o Santo e é lá que o povo se comprime e espera.

      Ao meio dia faz muito sol - é o dia mais quente do ano - chega o cortejo. Há milhares de pessoas em tôrno da igreja, na praça iluminada, onde se erguem pequenas barracas em que se vendiam, nos anos passados, comidas genuinamente nativas. Infelizmente a civilização é um fato e dentro das barraquinhas líricamente "Flór das meninas" e "Rosa Maria" meteram, este ano, estranhas conservas muito viajadas. É verdade que encontramos Maria de S. Pedro, intransigente, cheia de convicções tradicionalmente culinárias, e algumas baianas verdadeiras. Isso neutralizou de certo modo a invasão. Mas a tradição ficou mais ou menos perturbada.

      Lá na praia desembarcaram o Santo. Uma multidão incontrolável o conduziu ao adro, improvisando cânticos, e dentro, na igreja, êle foi guardado. Então, fora, na praça, tudo é música, suor e capoeira e berimbau.

      "Eu pisei na fôlha sêca
      vi fazer chuá... chuá..."

      Uma cabrocha fabulosa se requebra e em tôrno de seu corpo acêso os homens cantam:

      "Quem não tem cabelo
      não carrega trança
      quem não tem amor na Bahia
      ê ê ê não manda lembrança".

      Foto 2: Na rampa do Mercado começa a procissão

      Foto 3: Acarajé e abará para os devotos do mar...


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