•  O ABC DO MERCADO MODELO 
    9/dez/1912

    O PRIMEIRO LOCAL (número 1 no mapa)

    1911 - Começou a ser construído.

    1912 - Foi inaugurado em 9 de dezembro.

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    Mercado Modelo 1912 - 1915, salvador-antiga.com

    REFORMAS DO PRIMEIRO LOCAL (número 1 no mapa)

    1915 - Em agosto a Intendência Municipal abriu concorrência para sua reforma e ampliação. A única proposta foi a dos engenheiros Filinto Santoro e Portella Passos, que foram contratados. O Mercado Modelo ganhou, então, sua conhecida arquitetura, em estilo eclético.

    1917 - Sofreu o primeiro incêndio com danos parciais.

    1922 - Segundo incêndio destruiu grande parte de sua estrutura.

    1943 - Terceiro incêndio ocorreu com danos parciais.

    1945 - M Camafeu de Oxóssi conseguiu sua primeira barraca no Mercado Modelo (leia mais sobre ele aqui.

    1968 - A Rainha Elizabeth visitou o antigo Mercado Modelo no 2 de novembro (leia mais abaixo).

    1969 - No 1 de agosto ocorreu o último incêndio, que destruiu completamente o antigo Mercado Modelo (leia mais abaixo).

    1972 - Uma escultura (1 no mapa, foto abaixo) Fonte da Rampa do Mercado (ou Monumento à Cidade de Salvador) foi erguido em 1972 no local por Mário Cravo.

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    Mercado Modelo 1915 - 1969, salvador-antiga.com

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    Fonte da Rampa do Mercado

    O SEGUNDO LOCAL - Mercado Popular (número 2 no mapa) de Água de Meninos* (número 3 no mapa)

    1942 - Sabemos que M Waldemar começou vender seus berimbaus na feira Água de Meninos (veja a foto abaixo).

    1964 - Incêndio da Feira de Água de Meninos.

    1969 - Depois de incêndio do antigo Mercado Modelo o mercado foi temporalmente mudado para onde ficou o antigo Feira Água de Meninos (veja a foto abaixo) e começou a ser chamado Mercado Popular de Água de Meninos. Acabou de ficar até depois de novo mercado aberto na antiga casa da Alfândega.

    * Nome concedido ao local que tinha uma nascente de água natural aonde grande números de meninos iam se banhar. No século XVIII, o governo municipal mandou construir uma bica pública para o abastecimento da população, chamada de Fonte de Água de Meninos.

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    Água de Meninos 1950, Pierre Verger

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    Mercado Popular de Água de Meninos 1969 - hoje

    O TERCEIRO LOCAL (número 4 no mapa)

    1971 - No 2 de fevereiro um novo Mercado Modelo foi inaugurado no antigo prédio da Alfândega*. No mesmo ano M Camafeu de Oxóssi inaugurou, ao lado de sua esposa Toninha, um restaurante lá.

    1984 - Incendio do novo mercado.

    * Casa da 3º Alfândega de Salvador - aberta em 1861.

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    Mercado Modelo (antiga Alfândega) 1971 - hoje, velhosmestres.com


    Os locais dos Mercado

    Os locais do Mercado


    Imagens

    • A Rainha da Inglaterra em Mercado Modelo recebendo uma penca de balagandas de prata ao lado de Antônio Carlos Magalhães, então prefeito da cidade e Luis Viana Filho, o governador

      Revista O Cruzeiro, 1968

    • A Rainha da Inglaterra em Mercado Modelo, 1968

    • A Rainha da Inglaterra em Mercado Modelo, 1968

    • Mercado Modelo antigo

    • Mercado Modelo antigo, 1920

    • Mercado Modelo antigo, 1960

    • Mercado Modelo antigo

    • Mercado Modelo antigo

    • Mercado Modelo novo e o monumento Mário Cravo hoje

    • Leia o texto completo abaixo!

    • Leia o texto completo abaixo!

    • Foto: A dor solidarizou a todos. O prefeito Antônio Carlos Magalhães e o governador Luiz Viana Filho, traumatizados também ouviram as lamentações e as queixas do povo.

    • Foto: Alastrou-se célere, na madrugada, a voragem das chamas, não dando tempo para salvar quase nada.

    Mercado Modelo

    O texto

    • página 1

      -

      Uma rainha chorou o incêndio do Parque Brasília (?)
      Correio Popular, Campinas (SP), 24 ago 1969
      Reportagem de Nair de Santana Moscoso

      O incendio do folclórico mercado baiano teve repercussão internacional. Belo no seu exterior, originalíssimo e raro internamente, era visitado pelas mais altas personagens do mundo inteiro: escritores, artistas, cineastas, cientistas, governadores e presidentes e até nobres de sangue azul, tendo recebido, inclusive a rainha Elizabeth II e sua côrte, que não escaparam nenhum turista, de inclui-lo no seu roteiro de viagem.

      Quando de sua passagem no ano findo à Boa Terra, foi excepcional o calor da recepção que lhe tributaram. Mandaram pintar o velho Mercado. À frente deste, um gigantesco tapete de sisal, inteirinho coberto de flôres para ela passar. E enquanto a Rainha percorria as varias barracas, acompanhadas pelo Governador, detendo-se para examinar aqui e ali os objetos que mais lhe chamava a atenção, saudada com gritos de "salve a Rainha" da multidão lá fora, no interior do Mercado, palmas, flôres e o fundo musical da magia de um samba, feito a ultima hora por Camafeu de Oxóssi - em forma de saudação - executado por um bando de tocadores de berimbaus...

      E foram presenteados, ao Principe Philip um Berimbáu indigena, todo envernizado e pintado de varias córes e à Rainha, um Barangandã gigantesco, de prata autentica, pesando quase dois quilos, com uva, abacaxi, pinha, peixe, araçá, capim, coco de apanhar água, pandeiro, pote e romã, com uma dedicatória em uma placa tambem de prata: "To her, Majesty Queen Elizabeth II. A humble souavenir of your Majesty's visit to the Model Market of Salvador Bahia Brazil, from the stall holden of the Market - 2 d. november 1968".

      Tudo isso levou a Rainha a sorrir emocionada e mesmo declarar ao Governador: "êste é um dos momentos mais felizes de minha vida". "Momentos felizes" da vida de uma das mais poderosas cabeças coroadas de nosso dias, passados no Mercado Modelo da Bahia...

      E agora, mal soube do sinistro que destruiu o velho Mercado "humanizado na paisagem baiana", - como todos o afirmam - apressou-se em mandar em seu nome e no da côrte da Inglaterra, as suas reais e sinceras condolências...

      O que era o Mercado Modelo

      Belo prédio, dominando extensa área da Cidade Baixa, quem descia o Elevador Lacerda, a Ladeira da Montanha ou a Avenida Contôrno, deparava com "êle" e não havia turista que não se sentisse fascinado, de lá saindo com as bolsas carregadas de cousas lindas e originais, em que se constituiam as "famosas lembranças da Bahia" que têm sido levadas anos a fio, pelo mundo inteiro.

      Expostas numa promiscuidade, nós as encontravámos ao lado das cousas comuns a todos os mercados, como o feijão, a arroz ou a batata e ainda das frutas saborosas e diferentes, além da malagueta e do soberano Azeite de Dendê e do camarão industrializado na terra, que imperam na maioria dos acepipes baianos.

      E ao lado de um numero fabuloso de pequenos objetos, os mais variados, as figas de jacarandá ou de arruda, de madrepérola... ou simplesmente de Guiné, além de certo tipo de jóias originais, de todo material imaginável, inclusive de ouro e de prata e de pedras semi-preciosas e mesmo preciosas, do mais belo aspecto e colorido...

      E se saíamos com as bolsas carregadas, os bolsos não saiam muito vasios, porque não obstante demasiado cara a vida em Salvador, os artifíces populares baianos não se fazem pagar muito, dada a sua multiplicidade e tudo lá dentro é, geralmente, produto da arte popular. O Barangandãs sem conta... Os Berimbaus coloridos de todos os tamanhos e demais instrumentos para acompanhar a Capoeira. Bolsas e cestas da mais variada espécie: de coco, de sisal, de jacarandá, de ouricuri, além de um mundo de comidas típicas nas diversas barracas, que os de fora, como os da cidade saboreiam gostosamente.

      E êsse exotismo e disparidade de objetos postos à venda, é que lhe davam aquêle colorido impar de tudo quanto é cousa, alias, naquela Bahia, que Stephan Zweig, em uma das visitas chamou de "a Cidade das Cores"...

      "Cantinho dos visitantes"
      "Fé em Deus"
      "A invencivel"

      E mais um sem número de nomes sugestivos encimavam tôdas as barracas do Mercado Modêlo (cêrca de 280) e tôdas o fogo destruiu com violência, no curto espaço de três horas, na madrugada de uma sexta-feira derradeira de julho findo.

      A população de Salvador está de luto, pode-se dizer, com a perda do seu folclórico Mercado Modêlo, cuja destruição deixou ao desamparo cêrca de um milhão de pessoas e cujo impacto fez o povo chorar pelas ruas.

      Maria de S. Pedro escapou com vida

      Somente escapou incólume das chamas, milagrosamente, a "Barraca (Restaurante) Maria de S. Pedro". Parece que a imortalidade foi o destino da famosa barraqueira, a que [..] rainha da culinária baiana, aquela que não poucas vêzes teve que voar de avião para o Rio de Janeiro, convidada pelos presidentes da República, [..] fim de preparar banquetes especialmente típicos para [..] de longes terras. E que morta, há já um punhado de anos, MARIA DE S. PEDRO continua viva em tudo quanto é prospecto e livro de turistas da Boa Terra, escrito em [..] quanto é idioma, imortalizada através da famosa cozinha da Bahia. E vivo continua o seu nome em letras [..] na placa da Barraxa que foi sua e que sua filha, digam sucessora e discípula, perpetua com os pendores culinários que herdou de sua Mãe.

      E até o fogo respeitou MARIA DE S. PEDRO, já que sua Barraca foi a única que se salvou.

      Espectro do Mercado Modelo

      Nêste segundo sábado que passou - sem "êle" - o povo baiano continua sob o impacto do incêndio que devorou um dos seus mais raros e originais patrimónios. E do imenso brazeiro em que se tornou todo o seu interior, cinzas ainda fumegavam, muitos dias depois, e mesmo esparsas algumas chamas vivas. Cercado dia e noite por guardas e isolado por um cordão protetor, êle continua o dia inteiro, sendo espetáculo doloroso aos olhos dos baianos e visitantes amigos que lhe vão dar o derradeiro adeus. E foi assim que nós lhe acenamos também o nosso, de filha da terra, saudosa, e chorando vê-lo naquêle aspecto [..], proibída a aproximação do povo, como se "em quarentena" de alguma doença contagiosa...

      Solidariedade e promessa de ajuda

      O Governador Luiz Viana Filho e o Prefeito Antonio Carlos Magalhães juntos choraram com os barraqueiros, que perderam com o sinistro, todos os seus haveres (havendo barracas

    • +

      página 2

      no valor de [..] de cruzeiros [..] na sua maioria não estavam no seguro. Sómente o [..] o prédio do Mercado, próprio da Prefeitura, em [..] milhões antigos.

      E um Mercado com melhores condições de confôrto, e de higiene de maior extensão (o dôbro lhes foi prometido) além de urgentes providências, para funcionamento provisório das barracas no local a ser inaugurado como Mercado Popular, nos terrenos da antiga Água de Meninos (que também há tempos foi destruída pelo fogo), enquanto buscarão as autoridades apurar a reponsabilidade da tragédia, que muitos não querem aceitar como obra do acaso...

      A bela Avenida de Contôrno - plano que se vem realizando em intensivo rítmo, na Bahia nova, - terá continuidade esplêndida nos terrenos do ex-Mercado Modelo, que veterano de mais de um século de existência, foi destruído no espaço de apenas três horas, tendo o fogo começado pelo centro se estendido pelas periferias, deixando, porém, intactas, inteirinhas as paredes externas...

      A Bahia sem Mercado Modêlo - único no mundo

      Vai ser custoso para o baiano aceitar isso.

      Foi esta a afirmativa dos estudantes, quando, no primeiro sábado sem Mercado Modêlo (que era o dia de maior movimento) andaram à cada de um local substituto para as batidas de limão "com lambretas" (pequeninos moluscos, a título de "tira-gôsto", com que acompanhavam as famosas "batida", já do noticiário dos jornais e que tanta celeuma causou entre o Chefe de Polícia e os estudantes, quando de sua proibição).

      Intelectuais, estudantes, turistas, reuniram-se no primeiro "sábado sem Mercado Modêlo", à tarde, ao som dos atabaques e berimbáus, em sambas de rodas e estabeleceram-se, provisôriamente, na taba dos Orixás, no Vale do Canela, para "afogarem as mágoas" e esquecerem a destruição do que sentimentalmente "trocadilhando", disseram ser o "modêlo do mercados"...

      Sem lhe verem as falhas, amando o velho Mercado, com sua vida própria na cidade e com o seu exotismo impar - como tôda a população, aliás - estão custando de aceitar a sua falta, como de encontrar um substituto para as suas reuniões sabáticas enquanto, meneando a cabeça, rendem-lhe sua homenagem na afirmativa saudosa: "O MERCADO MODÊLO era único no Mundo"...

      Foto 1: Um montão de ferros torcidos foi que restou do Mercado Modêlo, consumido em menos de três horas, pela violência das chamas.

      Foto 2: Das barracas do Mercado Modêlo salvou-se apenas a Barraca Maria de S. Pedro, restaurante rústico famoso em todo o mundo pela culinária especializada baiana, que os turistas como os da terra saboreavam.



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