• Paulo José Cordeiro Santana
     Mestre Paulo Satanás 
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    O ABC

    19?? - Nasceu.

    1958 - Em fins de outubro foi levado à delegacia de polícia (leia abaixo).

    1965 - É o sujeito da história FIGURAS DA BAHIA - PAULO SATANÁS, O TERROR DA NAVALHA! contada por Ricardo de Benedictis (leia abaixo).

    19?? - Faleceu.

    Imagem

    • M Paulo Satanás
      Acervo: Camila Nobre

    M Paulo Satanás


    Texto

    • página 1

      -

      Processo-crime de Paulo Santana e Aidil [..]
      ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA. Fundo do Judiciário. Seção República.
      1958

      Era mais um dia típico na Delegacia da 1ª Circunscrição Policial (1ª CP) de Salvador nos fins de outubro de 1958 quando chegou o soldado Lima conduzindo o casal Paulo e Aidil. (ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, 1958) Foram parar na delegacia após discutirem e Paulo travar luta corporal com o soldado que os conduzia, devido a um desentendimento iniciado por volta das vinte horas no “entroncamento da Rua Senador Costa Pinto com Pedro Altran”, onde o oficial fiscalizava o trânsito. Este decidiu, então, parar o ônibus “Barra Avenida” para averiguar excesso de lotação.

      Parece que as deficiências do transporte coletivo foram vistas sob ângulos diversos pelos contendores naquele momento. O policial queria aplicar a lei, solicitando ao motorista “que constatasse o excesso de passageiros e lhe entregasse os documentos”. (ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, 1958) Aidil teria, assim como outros usuários, se impacientado e reclamado da ação policial. Em sua opinião “outras providências é que deveriam ser tomadas”, como “aumentar o número de veículos para atender às necessidades do tráfego de passageiros”. (ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, 1958) Na sequência Paulo entra em cena, descontente com a atitude do oficial em relação à sua esposa.

      A partir daí as versões de acusador e acusados, como era de se esperar, tomam feições divergentes. Se concordam que logo “embolaram os dois pelo chão”, Paulo e o soldado Lima, discordam de causa e efeito: segundo o casal, Paulo revidou a agressão; segundo o policial, foi o contrário. O certo é que a escaramuça só teve fim diante da intervenção de mais dois policiais que passavam de viatura pelo local, terminando todo mundo na delegacia.

      O soldado Arivaldo França, que auxiliou na condução do casal, disse em depoimento que conhecia aquele homem

      [...] pelo vulgo de ‘Paulo Satanás’, sendo esta a terceira vez que o conduzido presente é autuado em flagrante delito, e em uma das quais, pelo fato de haver ferido com uma gilete o Fiscal da Guarda civil de nome Pitanga; [...] que o conduzido presente é conhecido na roda da malandragem como maconheiro [...]. (ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA, 1958, p. 4)

      Alguns dias depois eles pagaram fiança, permanecendo em liberdade. Delegado e promotor concluíram pela culpabilidade do casal solicitando ao judiciário as medidas cabíveis. Contudo, só em 1961 eles seriam procurados pela justiça para dar andamento ao processo, no que foi verificado pelo oficial que estes não moravam mais na cidade, se encontrando, segundo consta, no estado da Guanabara. Diante disso, a promotoria que iniciou o processo judicial pede seu arquivamento, sendo atendida pelo juiz e não mais se teve notícias do casal.

      Foquemo-nos, entretanto, no ocorrido. Mais ainda no que foi dito na delegacia. A acusação do soldado Arivaldo França apresenta uma estreita afinidade com as linhas gerais do discurso proibicionista da época que tinha no comportamento violento consequência natural dos efeitos psíquicos da maconha. “Paulo Satanás” seria “afamado”, reincidente que teria “navalhado” um guarda municipal e além de tudo, “maconheiro”. Essa última informação parecia garantir fundamento à sua fama de “arruaceiro” para as autoridades. Paulo não era detido por uso ou tráfico da droga, mas a acusação de “maconheiro” em meio a um caso de lesões corporais assumia uma função: servia para justificar, em parte, seu comportamento violento e a legitimidade da prisão. Por sinal, era frequente referir-se à maconha como algo malígno e diabólico, tais como “erva do diabo”, “planta diabólica” e “erva maldita”, ou dizia-se que onde ela ardia “no inferno virava”, como era o caso das ruas da Ajuda e do Tesouro no centro de Salvador. (A Tarde, 1959, p. 4) Então, sendo Paulo, o “Satanás”, a maconha lhe correspondia.

    • +

      página 2

      O CINE LICEU E “OS PÁSSAROS” DE HITCHCOCK
      Ricardo de Benedictis
      2022

      Corria o ano de 1965 quando o Cine Liceu anunciou Os Pássaros, do grande diretor Alfred Hitchcock. Minhas irmãs Teresa e Stella, além da minha então cunhada Terezinha, mostraram-se interessadas em ver o filme que vinha recomendado como uma grande produção do Hitchcock. Marcamos horário noturno e fomos do Rio Vermelho para a Praça da Sé, em Salvador, imediações das melhores salas de cinema da Capital da Bahia, naquele período.

      Chegando no destino, como não havia vaga para estacionar muito próximo ao cinema e pelo fato de estar neblinando, parei o Jeep e elas desceram para me esperar no vestíbulo do cinema. Logo, logo estacionei e fui ao seu encontro. Na entrada do Liceu, deparo-me com uma cena grotesca. Um malandro de branco havia agarrado o cabelo ‘rabo-de-cavalo’ de Terezinha e insistia em segurar, enquanto ela lutava para desvencilhar-se. Incontinenti, dei um empurrão no vagabundo e quando ele se virou, desferi um direto em suas fossas nasais, enquanto a Polícia chegava e dava conta do resto, levando o meliante para a delegacia da rua da Misericórdia, nas proximidades do local. Era a famosa Delegacia de Jogos e Costumes. Um dos policiais chamou-me a atenção para o fato de que eu havia agredido um sujeito muito perigoso: - O Sr. já ouviu falar em Paulo Satanás? No momento fiquei indeciso, apesar de não ser estranho aquele inusitado apelido. E o policial continuou: - Ele é aquele bandido que cortou de navalha alguns passageiros do bonde da Liberdade quando passava pelo Ramo de Queiroz e aconselho-o a ter cuidado na saída do cinema, pois não estaremos aqui para protege-los. Ele é vingativo, frio e tem algumas mortes na conta! Fiquei perplexo!

      Confesso que assisti o filme sentindo mais frio que o normal, embora a sala de cinema tivesse um ar condicionado central muito forte.


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