Anthony Leeds
Recorded by an american anthropologist
Jun/Jul 1951
Photo of Anthony Leeds
Music
The identified musicians on the recording are Valdemar Rodrigues da Paixão (mestre of capoeira) and Antonio Messias dos Santos on berimbau. Lyrics for this tune are about canganceiros (bandits). The recording is made of three parts:
Track 1 Ladainha Valente Vilela. Sings M Waldemar. See below the transcription by Hilton Teimosia Souza, additions by Pai de Olivia (Fabio Melo), Daniel Ribeiro Mattar and Sven Cajueiro.
Track 2 Instrumental. Antonio Messias (berimbau) and other musicians (pandeiro, caxixi).
Track 3 Ladainha Era eu, era meu mano - sings M Traíra? / Corrido Paraná - sing M Traíra? & M Waldemar. Antonio Messias (berimbau) and other musicians (pandeiro, caxixi).
1 Ladainha Valente Vilela
Iê!
Senhores peço licença
Para contar uma história
Do cangaceiro Vilela
Trago sempre na memória
É que lutou quinze anos
Sempre alcançando vitória
Morava na Serra Torta
Esse homem de perigo
Ele lutou quinze anos
E não teve uma só luta
Que ele saísse vencido
Ali tinha um capitão
Um sujeito muito ousado
Disse "Eu vou na Serra Torta
Trago Vilela amarrado"
No outro dia bem cedo
Marcharam para o lugar
Onde morava Vilela
O povo foi ensinar
Cercaram ali a casa
Ficaram de prontidão
Chegou lá o capitão
Mandou a casa cercar
Cercaram ali a casa
Ficaram de prontidão
„Vilela tu abre a porta
Por ordem do capitão
Você hoje sai daí
Direitinho para a prisão“
Vilela tava em casa
Sem nada disso saber
Disse "Vocês vão embora
Não venham me aborrecer
Responda-me soldado
Se veio matar ou morrer"
"Não vim matar e nem morrer
Tá enganado, sujeito
Você hoje me dá conta
Das mortes que já tem feito"
Vilela tava em casa
Sem nada disso saber
Disse "Vocês vão se embora
Não venham me aborrecer
Responda-me, soldado
Se veio matar ou morrer"
"Não vim matar e nem morrer
Tá enganado, sujeito
Tenho ordem do delegado
Força juiz de direito
Você hoje me da conta
Das mortes que já tem feito"
"Já matei vinte e nove
Com você quebro o jejum
O homem que mata cem
Também mata cento e um"
"Vilela abre a porta
Deixa de contar vantagem[?]
Fama não me intimida
Hoje eu não estou de graça
Toco fogo na casa
Você morre na fumaça"
"Vou lhe perguntar uma coisa
Só porquê lhe quero bem
Não me desculpo a ninguém
Tu fique com tua boca
Qual força de praça tem?"
"Tenho cento e oitenta praças"
Respondeu-lhe o capitão
Vilela respondeu
"Não me entrego a prisão
Com cento e oitenta praças
Brigo em pé, brigo deitado
Chega[?] aí no terreiro
Mande só prá um soldado"
"Já mandei-lhe um despacho
Prá ti diz a questão
Eu estou pronto a esperar
A morte de um ladrão
Hoje sangue pro riacho
Vai escorrer em borbotão"
"Delegado dos diabos
Você me agravou agora
Prepare seus armamentos
Que Vilela sai lá fora"
Vilela abriu a porta
Para o terreiro pulou
Os soldados com as armas
Contra ele disparou
As balas batiam nele
Porém não faziam nada
Batiam nos soldados
Voltavam prá trás danadas
Só pro pé dos soldados
Vinham cair amassadas
Os soldados se espantaram
Perderam as armas de fogo
O rifle e granadeiro
Ficou o capitão
Ali sozinho no terreiro
Está agora estes dois homens
Parecendo dois novilhos
Foram ao fogo de pólvora
Terminaram a ferro frio
"Taí, seu desgraçado
Não pretendo mais dizer"
Vilela foi a ele
Para matar ou morrer
O alferes deu um pulo
No momento que pulou
Um osso de ponta aguda
No meio do pé entrou
Vilela saltou por cima
E na abertura pegou
"Valha-me Nossa Senhora
Mãe de Deus Poderoso
O que dai-me de engolir?
Que fel tão amargoso?"
Dava conselho em problema
Tu tomava prá seu mal
Para ti não ha perdão
Nesse momento fatal
Tu vai me engolir
A rolha do meu punhal"
Sai a mulher de Vilela
Com uma imagem na mão
"Vilela, não mate o homem
Tenha dele compaixão
Ele tem filhos pequenos
Iam ficar sem ??? pão[?]"
"Sai-te daqui mulher
Eu não quero seus conselhos
Se ele tivesse me morto
Tu não achava tão feio?
Eu quero matar o homem
Você vem meter no meio"
"Vilela não mate o homem
Ele está tão precavido
Você também é casado
Pode precisar um dia"
"Eu não sei o que tem mulher
Que todas elas são penosas
Quando tem barulho em casa
Ficam todas tão maliciosas[?]"
Vamos-nós embora!